quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

ARTIGO: Infância e novas mídias

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Infância e novas mídias

Por: Elaine Rose da Silva

Introdução:

Com o avanço tecnológico torna-se quase impossível falarmos da infância hoje em dia sem a associarmos a jogos eletrônicos, Internet, DVDs, aparelhos celulares e brinquedos com controle remoto. As novas tecnologias e as novas mídias ajudam a formar crianças cada vez mais acostumadas a lidar com as maravilhas do mundo digital e, detalhe, cada vez mais cedo! Tal adaptação nos leva a questionar qual caminho será traçado pela nova geração: serão adultos “descolados” que sabem lidar com todas as tecnologias e mais informados ou serão crianças que perdem o interesse pelas brincadeiras simples e amadurecem antes do tempo perdendo a essência da infância que é imaginar?

O tema da infância e as novas mídias têm influenciado diversos especialistas ao redor do mundo que, intrigados cada vez mais sobre como a infância está sendo afetada com as transformações tecnológicas, dedicam suas pesquisas a buscar compreender se a influência é predominantemente negativa ou se existe algo de positivo nessa nova forma de se desenvolver dos jovens.

Para o professor David Buckingham (diretor do Centro de Estudos da Infância, Juventude e Comunicação da Universidade de Londres e especialista na relação entre comunicação e infância):

“educar não significa apenas que os professores devam falar e os alunos escutarem. Significa também encorajar a participação das crianças na produção de mídias. Proteger as crianças da influência negativa das mídias está ultrapassado. As crianças precisam ser estimuladas por educadores preparados a lidar com as novas mídias e criar as suas.” (Centro de Convivência da UFSC)

É necessário investir na qualificação dos profissionais da educação para que estes, ao invés de inibir o uso das novas tecnologias por parte dos seus alunos, os encorajem a utilizá-las de forma a ajudar em seus estudos e na sua formação como indivíduo. É fundamental saber extrair coisas positivas deste impacto que, segundo outros especialistas, quando não utilizados de maneira correta, podem acarretar sérios prejuízos para as crianças e os adolescentes que crescem de forma cada vez mais precoce. Para muitos o tempo das brincadeiras inocentes na rua e dos desenhos animados na TV de casa parece ter ficado num passado distante da atualidade, isso não só influencia a formação intelectual, social como também a formação sexual dos jovens.

A formação intelectual pode ser prejudicada se o hábito de pesquisar tudo o que for proposto em sala de aula seja feito através da Internet. O costume de pesquisar em livros, revistas, jornais e bibliotecas se extingue cada vez mais cedo. Até mesmo os trabalhos escritos são feitos em editores de textos que corrigem automaticamente a gramática, impedindo que os alunos aprendam com seus próprios erros. E esse modo de pesquisa não afeta somente os jovens com mais idade, pois é comum vermos crianças menores utilizando, cada vez mais cedo, os computadores, sejam eles domésticos ou das chamadas lan houses[1].

A formação social também é afetada devido ao maior tempo de reclusão ao qual o jovem e a criança se submetem em suas casas enquanto permanecem horas em frente ao computador. As amizades, em sua maioria, são feitas hoje através de redes sociais e canais de comunicação on line[2] como MSN e Orkut. Com o tempo as crianças e os jovens perdem o contato com as outras e a troca de experiências pessoais passa a ocorrer de forma virtual, sendo que na maioria das vezes, estas pessoas jamais chegarão a se conhecer de forma concreta.

Para o psicólogo especialista em sexologia, Carlos Boechat Filho, o afrouxamento dos valores sexuais e a influência da mídia são os principais responsáveis por um adiantamento na vida sexual dos adolescentes. Segundo o psicólogo, quanto mais tempo em frente à TV ou ao computador, navegando pela Internet, maior será a facilidade de acesso a conteúdos eróticos e inapropriados para menores. Neste caso torna-se de extrema importância o acompanhamento dos pais que devem impor limites ao mesmo tempo em que evitem reprimir a busca por certas informações.

Pesquisas realizadas no Reino Unido sugerem que as crianças agora ficam muito mais confinadas em casa e têm muito menos independência de locomoção do que tinham 20 anos atrás. E, enquanto os pais agora passam muito menos tempo com as crianças, eles tentam compensar a falta fornecendo cada vez mais recursos econômicos para cuidar dos filhos. (Buckingham, 2003, p.21)[3]

Até meados da década de 1990, os preços de aparelhos eletrônicos e celulares eram muito altos, porém com a evolução tecnológica e o avanço econômico brasileiro, nossos jovens passaram a almejar novos tipos de presente e os pais, influenciados pela constante queda nos preços destes itens, acabam cedendo e fornecendo aparelhos cada vez mais sofisticados que, durantes suas próprias infâncias, não existiam ou eram privilégios dos mais afortunados financeiramente.

De acordo com os especialistas, as novas mídias e as novas tecnologias influenciam na mudança do sentido da infância. Se antes destas transformações as crianças eram diferenciadas pela etnia, classe social e cultura, hoje elas começam a se polarizar em grupos dos que vivem uma “infância moderna” e os outros que ainda tem uma “infância tradicional”.

Lilian Ivana Born[4] é uma das pesquisadoras que avaliaram as influências das novas tecnologias na infância, em especial o uso do celular. Como antes foi mencionado uma nova divisão entre “infâncias”, Lilian fez a seguinte declaração:

“acerca da influência da tecnologia nas sociedades, entendendo que ela não é neutra, que altera e produz novos modos de vida, e com isso também uma nova representação de infância.”

Segundo a pesquisadora, as propagandas que disseminam as novas funções e os novos modelos, cada vez mais atrativos, despertam nesses indivíduos o desejo de posse desses aparelhos, criando assim uma nova realidade da infância: o consumismo precoce.

O lado positivo do uso das novas mídias também deve ser avaliado, a TV, por exemplo, quando aliada de forma correta ao processo pedagógico pode complementar o processo de ensino-aprendizagem e interagir como um exercício intelectual e de cidadania. Mas para que isso realmente funcione, é necessário que nós pedagogos saibamos auxiliar as crianças de forma que elas, antes de qualquer coisa, aprendam a assistir à TV, podendo compreender as imagens e as mensagens enviadas.

Promover a utilização da TV como recurso pedagógico é fazer com que a escola tenha o material que vai possibilitar a produção de conhecimento na criança. É o professor que define a escolha das imagens e o uso que dará a elas no processo pedagógico.

“[...] as mídias apresentam-se, pedagogicamente, sob três formas: como conteúdo escolar integrante das várias disciplinas do currículo, portanto, portadoras de informação, idéias, emoções, valores; como competências e atitudes profissionais; e como meios tecnológicos de comunicação humana (visuais, cênicos, verbais, sonoros, audiovisuais) dirigidos para ensinar a pensar, ensinar a aprender a aprender, implicando, portanto, efeitos didáticos como: desenvolvimento de pensamento autônomo, estratégias cognitivas, autonomia para organizar e dirigir seu próprio processo de aprendizagem, facilidade de análise e resolução de problemas, etc.” (LIBÂNEO, 2001, p. 70)[5].

Conclusão:

Diversão, educação, socialização e comunicação. Esses deveriam ser os tópicos formadores de uma infância saudável, porém num mundo tão desenvolvido, e com mais novidades surgindo diariamente, torna-se cada vez mais complicado não migrar a infância como conhecíamos para a “infância do futuro” quase toda (ou toda) automatizada e individualista.

Cabem a nós, futuros educadores, investirmos em conhecimentos específicos que possam unir as facilidades tecnológicas e midiáticas com a formalização da educação, interagindo com os alunos através do uso de ferramentas que lhe despertam o interesse pelos estudos (computadores, câmeras digitais, aparelhos celulares, etc.) e através deles transmitirem os conhecimentos e conteúdos que norteiam a ação pedagógica.

Uma infância ideal é aquela onde as crianças disponibilizam de novos meios de diversão e informação, não deixando de lado as brincadeiras clássicas que as ajudam na socialização. Deste modo, unindo o passado e o futuro (cada vez mais se fazendo presente) poderemos ajudar a construir adultos inteligentes e sociáveis que, sabendo lidar com as novas tecnologias, apreciam a boa e velha forma de viver, ou seja, ainda num mundo real.

Bibliografia:

http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20060703101942AApaRXa 07/01/2010 às 02:02

http://midialab.wordpress.com/2008/02/07/infancia-e-novas-midias/ 12/03/2010 às 23:41

http://www.artigos.com/artigos/sociais/sociedade/a-influencia-da-tecnologia-na-vida-de-criancas-e-adolescentes-dos-pequenos-centros-urbanos-1869/artigo/ 12/03/2010 às 23:57

http://www.aurora.ufsc.br/eventos/eventos_3a_jornada_mesa1.htm 12/03/2010 às 23:44

http://www.periodicos.proped.pro.br/index.php?journal=revistateias&page=article&op=view&path%5B%5D=190&path%5B%5D=189 07/04/2010 às 01:55

http://www.webartigos.com/articles/35613/1/A-Televisao-na-Educacao-Infantil/pagina1.html 07/04/2010 às 01:34

http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:LPzOlYiHtu4J:www.ulbra.br/ppgedu/files/resumo15.pdf+a+inf%C3%A2ncia+e+o+celular&cd=5&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br 07/04/2010 às 02:07

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[1] "Local Area Network", quer dizer "rede local", traduzindo assim uma loja ou local de entretenimento caracterizado por ter diversos computadores de última geração conectados em rede de modo a permitir a interação de dezenas de jogadores. O conceito de LAN House foi inicialmente introduzido e difundido na Coréia em 1996, chegando ao Brasil em 1998. A tradução para o português poderia ser "casa de jogos para computador".

[2] Conectado à Internet. Conexão em tempo real.

[3] BUCKINGHAM, David. Media education – literacy, learning and contemporary culture. Cambridge: Polity Press, 2003.

[4] Lilian Ivana Born (Mestre em Educação, professora de escola municipal, Porto Alegre/RS/Brasil)

[5]LIBÂNIO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora. São Paulo: Cortez, 2001.

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