sábado, 16 de março de 2013



REFLEXÃO SOBRE O ATO DE LER

Todo ponto de vista é a vista de
um ponto

Leonardo Boff

Ler significa reler e compreender, interpretar. Cada
um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de
onde  os pés pisam.
Todo ponto de vista é de um ponto. Para entender
como alguém lê, é necessário saber como são seus
olhos e qual é sua visão de mundo.
Isso faz da leitura sempre uma releitura.
A cabeça pensa  a partir de onde os pés pisam. Para
compreender,  é essencial conhecer o lugar social de
quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem
convive, que experiência tem, em que trabalha, que
desejos  alimenta, como assume os dramas da vida e
da morte, e que esperanças o animam. Isso faz da
compreensão  sempre uma interpretação.
Sendo assim, fica evidente que cada leitor é coautor.
Porque cada um lê e relê com os olhos que
tem.  Porque compreende e interpreta a partir
do mundo que habita.

Leonardo  Boff



Como ensinar a alunos com deficiência intelectual, numa perspectiva inclusiva?

   O professor não pode limitar  sua prática com esses alunos ao exercício de treinos repetitivos, voltados para as suas funções sensoriais e motoras.
Ensinar a alunos com deficiência intelectual depende da metodologia de cada  docente,  pois ele tem que ser um pesquisador,  demonstrar credibilidade em seu alunado, saber ensiná-lo não só os conteúdos curriculares, mas principalmente, os saberes indispensáveis para que este consiga trilhar seus caminhos na vida, na condição de cidadãos que são.
   Uma das formas mais fácil desse aluno aprender é através do brincar, onde a criança poderá  desenvolver sua coordenação motora, suas habilidades visuais e auditivas e seu raciocínio criativo As crianças deficientes, que têm um menor grau de comprometimento em seu desenvolvimento cognitivo, também aprendem por imitação, contudo, freqüentemente necessitam ligeira ajuda para torná-las mais inquisitivas.
   Já as crianças com maior grau de comprometimento em seu desenvolvimento cognitivo necessitam que lhes ensinem muita coisa e nesses casos a imitação quase não funciona. É necessário ensinar a tarefa em si e mostrar que o processo é divertido.
   Na brincadeira a criança deve respeitar as regras, submeter-se à disciplina, participar de equipes, aprender a ganhar e a perder. As regras do jogo têm que ser bem explicadas, com poucas palavras e de forma bem clara. Precisará de apoio para conformar-se a perder, ou a ganhar, sem ufanar-se muito, a respeitar as regras e a controlar-se.
   Vejamos um exemplo. Digamos que o professor leia, em certo material, uma sugestão de atividade que auxilie a aprendizagem de conceitos de números: “Para ensinar alunos com deficiência intelectual a contar, coloque-os em um grupo pequeno, de, no máximo, dois ou três participantes, e ofereça a eles material concreto, como peças de encaixe. Solicite que, juntos, construam torres com diferentes números de andares”. Essa proposta não faz o menor sentido quando é aplicada sem qualquer contextualização. Por quê? Por vários motivos. Primeiramente, ela não leva em conta uma série de fatores que o professor sempre deve ter em mente antes de planejar uma aula: os colegas aceitam bem a convivência com a criança com DI? Essa é uma atividade significativa para esse grupo e, em especial, para o aluno com DI? Esse grupo tem o hábito de trabalhar em sistema de cooperação? Como o professor vai contextualizar e mediar essa atividade? Os estudantes têm o conhecimento necessário para aprender esse conceito matemático? Caso os colegas da criança com DI já saibam executar essa tarefa, eles farão o papel de mediadores desse conhecimento para o colega que ainda não sabe?
   Esse é apenas um exemplo de como determinadas estratégias podem dar errado em sala de aula quando se parte de um pressuposto equivocado: o de que a aprendizagem ocorre quando há a atividade “certa” para um “tipo” de aluno. Muitos professores que têm alunos com DI em suas turmas reclamam que já tentaram de tudo para ensiná-los e que nenhuma sugestão se mostra eficaz quando aplicada a esses estudantes. De certa forma, eles têm razão. Realmente, quando o educador enfoca apenas a estratégia sem levar em conta que a aprendizagem é um processo, corre o risco de fazer várias tentativas de ensinar um conteúdo sem que nenhuma delas resulte na aprendizagem esperada. Por esse motivo, a pergunta “Como eu faço para ensinar tal conteúdo para esse aluno?” não faz sentido quando dirigida a um livro ou a um profissional que desconhece a realidade da sala de aula. Essa é uma  pergunta que apenas o professor que conhece seus alunos é capaz de responder as estratégias didático-pedagógicas como ensinar os conteúdos) devem estar de acordo com os resultados dessa avaliação e com o que será ensinado (currículo). Uma estratégia de ensino só faz sentido dentro do contexto de cada sala de aula, com cada grupo em particular.
   Citarei aqui algumas dicas que o professor  deve levar em conta ao planejar suas aulas;
·         Passar a informação do exercício de modo que possa ser assimilada com facilidade
§  Incluir estratégias para evitar distrações e promover motivação
§  Promover aprendizado de tarefas simples e progredir para complexas
§  Realizar repetição do ato constantemente - Princípio da aprendizagem motora
§  Ao mudar a tarefa sempre parta de algo de base já aprendido
§  Busque sempre conhecimentos a cerca da patologia, conheça seu aluno, oriente os pais ou cuidadores, realize seu trabalho de forma consciente e com amor.

   É nesse ponto que o papel do professor se mostra realmente insubstituível. Sendo ele a pessoa que mais convive com o estudante em sala de aula, somente ele será capaz de determinar o ponto de partida para sua turma. Por isso, apenas o professor pode saber qual o conteúdo mais adequado para os seus alunos, em dado momento. Falhas na avaliação levam fatalmente a falhas na escolha do conteúdo e das estratégias. O professor bem preparado sabe disso. O objetivo geral da escola é proporcionar condições para que todos os alunos obtenham conhecimentos significativos sobre o mundo que os cerca. Saber quais são esses conhecimentos e se, de fato, eles são significativos para os estudantes depende, é claro, de um processo de avaliação eficaz.
   O professor deve ter em mente que é importante propiciar aos estudantes situações em que eles aprendam e sejam bem-sucedidos. O bom desempenho é importante para todos, inclusive (e talvez ainda mais) para aqueles que apresentam mais dificuldades. Conseguir demonstrar seu potencial é importante porque é um fator que encoraja os alunos a superar desafios. É isto que uma boa estratégia de ensino, qualquer que seja ela, deve conseguir: promover algum grau de sucesso nos aprendizes para que eles se sintam motivados a continuar a aprender.